Quero muito em breve ir à Praça Getúlio Vargas.
Quero apreciar bem cada árvore, cada galho, cada canto, cada banco.
Quero ver bem o piso, o coreto, os jardins, ou o que resta de tudo isso.
Quero olhar muito tudo aquilo, ainda e sempre no meu coração.
Vou lembrar de momentos da minha infância em que brinquei na Praça Getúlio Vargas, sob o olhar cuidadoso de minha mãe.
Lembrarei-me, com certeza, dos bailes do Ituiutaba Clube, das paradas do 7 de setembro, das manifestações políticas, de muitos carnavais, das singelas quermesses, dos domingos ensolarados, das noites estreladas e do luar que iluminava os namorados.
Vou me recordar das histórias que vivi e das histórias que me contaram de quando havia rosas na Praça Getúlio Vargas.
Lembrarei dessas histórias e de outras, de momentos, fatos, acontecimentos
e lendas que fizeram da Praça Getúlio Vargas ser este espaço emblemático na vida dos tijucanos.
Quero ver tudo, lembrar de tudo, para não esquecer nunca mais.
Quero guardar, de cor - no coração - tudo que a praça tem e teve, foi e corre o risco, de não ser mais.
Pode ser que amanhã a praça já não exista mais.
Sinto a praça perder seu sentido, seu significado, sua importância e respeito.
Estão acabando com a nossa praça, na desculpa de sua revitalização.
Quando a vi pela última vez ela era um mero canteiro de obras.
Acabar com a Praça Getúlio Vargas é acabar com a nossa memória, nossos sentimentos, sentidos, com parte de nossa história.
Poetas já disseram que sem memória, o que é a vida?
Sem a Praça - porta-jóias da nossa memória – o que será da nossa cidade?
O que é uma cidade sem parte de sua memória?
Ela existe? Onde? Onde mora a cidade, senão na nossa memória e no nosso coração?
A Praça Getúlio Vargas é mais que um lugar de lazer, de recreação, de quimeras.
A Praça Getúlio Vargas já foi palco de inúmeros eventos que marcaram a nossa história.
O destino de muitos, foi traçado ali. Ali muitos sonharam com seu futuro.
Foi nos bancos da Praça Getúlio Vargas que gerações se encontravam, que jovens amavam sonhando. Foi em seus bancos que empresários edificaram seus empreendimentos, que professores se tornaram mestres, alunos aprenderam
a ser.
Foi na Praça que outros muitos projetaram suas vidas para o futuro, projetaram seus vôos e foi na mesma Praça que tantos taxista por anos a fio fizeram “ponto” aguardando a próxima corrida que lhes daria o seu pão de cada dia.
Na Praça Getúlio Vargas, celebraram vitórias, conquistas.
Por ali passaram nossos pais, nossos avós, bisavós e todos outros que vieram
antes de nós e deixaram sua contribuição para a cidade ser o que hoje é.
A Praça Getúlio Vargas é mais que uma praça, um lugar com canteiros, bancos
e árvores - é um espaço de saber, de sonhos, de encontros e despedidas, de religiosidade, de festa e consagração, de vitória, de exaltação, é um espaço mítico, simbólico, sagrado, um espaço de vida.
Largar a praça à deriva é tirá-la do seu contexto, é desvirtuá-la, é simbolicamente, naufragar parte do coração da cidade.
É alterar seu significado... Quebrar o seu encanto.